O Véu Roubado é um conto do
folclore alemão recolhido por Johan Karl August Masaus e é citado como uma das
inspirações para a criação da história O
Lago dos Cisnes de Tchaikovsky.
A partir desse conto Tchaikovsky viria a criar a tão famosa história de O Lago dos Cisnes e por fim uma sensacional trilha sonora que acompanha a história.
A partir desse conto Tchaikovsky viria a criar a tão famosa história de O Lago dos Cisnes e por fim uma sensacional trilha sonora que acompanha a história.
Abaixo a história de O Véu Roubado:
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O Véu Roubado
Não muito longe da cidade de
Zwickau, em Erzgebürge, estava o famoso campo de cisnes, chamado de lago de
cisne. Este lago dizia ter certas propriedades mágicas que rejuvenesciam a pele
e curavam os doentes. Diziam que certas fadas desciam dos montes para se banhar
nesse lago mágico.
Perto do lago mágico vivia, na
encosta de uma colina, numa gruta engraçada, Benno um velho eremita. Ninguém sabia
quem ele era e de onde viera. Há muitos anos atrás ele chegou e se instalou
ali.
Não longe dali sete homens
apareceram fugindo de um combate perdido, e sendo caçados pelos inimigos, foram
se esconder numa fornalha, e dormiram ali até o amanhecer. Porém de manhã as camponesas
que ali trabalhavam descobriram os intrusos e se armaram com foices e garfos a
fim de matar ou aprisionar os fugitivos. O mais inteligente dos sete, Friedbert
era seu nome, conseguiu escapar pela chaminé deixando os companheiros para
trás, e ele correu dali o mais rápido que pode.
Então à noite descansou perto do
lago, e no outro dia encontrou o velho eremita, Benno. Este o levou para sua
casa e cuidou de Friedbert, que se encontrava doente e fraco por causa da fome
e do cansaço.
Depois que o jovem, Friedbert,
se recuperou ele pediu à Benno se podia ficar um tempo com ele, como um
eremita. Benno consentiu com ânimo, pois precisava de alguém mais jovem para ajudá-lo
no trabalho da casa.
Ao entrar o solstício, quando a
primavera se separa do verão, o velho Benno ia sempre até o lago dos cisnes
para observar o vôo das belas aves. Até que Friedbert pegou-o um dia olhando o
lago e os respectivos cisnes.
À noite depois de jantarem e
apreciando um delicioso vinho perguntou à Friedbert:
— Tu
não tens namorada, meu jovem?
— Não.
— Mas
já se enamorou de alguma? Já sentiu o prazer da paixão e de como é bom para a
alma de um homem?
— Reverendo,
nunca namorei, sou um homem livre, sem algemas da paixão para me prender. Já
conheci o calor de uma mulher através das meretrizes e de garotas dadas ao
prazer. Nenhuma mulher derramou uma lágrima por mim, exceto minhas irmãs e
minha mãe que choraram quando eu fui para o exército.
O velho então começa a contar:
“Pois eu me apaixonei severamente, isso aconteceu há muito tempo. Eu era
um homem ousado e metido, e de família rica e nobre. Eu amava o jogo, então eu
joguei com um padre que me trapaceou, por causa de sua trapaça, matei ele. Fui,
então, para Roma para obter indulgência pelo homicídio que cometi, a igreja me
mandou para as cruzadas onde iria na terra santa lutar contra os serracenos,
caso eu não cumprisse a ordem, todos os meus bens iriam para igreja.
“Pegamos
um navio em Veneza e no mediterrâneo navegamos, mas no mar jônico uma grande
tempestade e o vento traiçoeiro africano levaram o navio a bater nas rochas e
se despedaçar perto da ilha de Naxos.
“Eu
não sabia nadar, mas meu anjo da guarda me agarrou dos cabelos e eu consegui
chegar ao litoral onde fui bem recebido pelos litorâneos. Então eu fui para a
residência real do príncipe Zeno. Lá eu conheci sua esposa, seu nome era Zoe,
tão linda, tão graciosa que me apaixonei por ela. Por causa desta paixão me
esqueci da minha verdadeira tarefa na Terra Santa.
“Eu
fiquei um tempo ali. Nos combates que tinha com os gregos em jogos de luta,
sempre eu saía como vencedor e ela... ela era de uma formosura só. Ela cantava
com a voz mais doce e delicada do mundo... ela era, agora, meu mundo. No início
tentei lutar contra a paixão, mas ela me derrotou. Eu adoeci, fiquei fraco e
magro, quase não tinha vontade de viver. Fui tratado por Theofrastus, um médico
sábio que me curou com palavras e remédios, me aconselhando a ir fundo no meu
romance, e me disse: ‘amor sem esperança é pior que a morte. ’
“Então
tomei forças e investi, a bela Zoe achou um jeito de escapar dos guardas e nós
nos amamos. Mas como tudo que é bom acaba logo, não demorou muito para a corte
descobrir e me prender. Fui preso numa torre forte que assim como um castelo
tinha água em volta dela e uma ponte levadiça. Fui forçado a ficar ali, junto
com esqueletos e cadáveres de outros condenados, esperando a morte.
“Sem
esperança alguma, ali fiquei, triste sem poder ver a minha amada e tê-la mais
uma vez. Foi aí que ouvi um barulho e um cesto desceu do teto, eu comi o que
nele havia. Até ouvir outro barulho... Era Theofrastus que fora me libertar e
me disse: ‘escute meu amigo, vim te libertar. Zoe conseguiu com muito esforço
que seu marido lhe deixasse vivo e livre. Ela fingiu-se de doente e não comeu
por três dias, Zeno a ama mais que tudo na vida e prefere perdoar uma traição
do que perder a esposa. Você será libertado e poderá voltar a sua terra, mas se
voltar a Naxos de volta será recebido com a morte.’
“Quando ele terminou, eu abracei
o digno médico e agradeci por tudo que fez por mim. Mas a partida de Naxos, no entanto, foi duro para
meu coração. Os encantos da bela Zoe tinham um
poder tão grande em mim, que eu preferia morrer do que me separar dela.
— Amigo — disse eu — Suas últimas palavras são para
mim uma mensagem de morte. Você não me disse que
amor sem esperança é pior que a morte? Se me deixar morrer na torre será melhor
do que viver a vida lembrando do amor que deixei para trás. Diga ao
príncipe que eu quero lutar por Zoe, e estou pronto para uma batalha. Quero
lutar contra um cavaleiro pela mão de minha amada e mesmo sabendo que eu não
consiga, eu prefiro morrer.
O amigo Theofrastus sacudiu a cabeça e respondeu:
— Loucura. O rei Zeno não deixará isso acontecer,
agradeça por ele ter te dado a chance de sair de Naxos. O amor é mais forte que
a morte e isso eu concordo, mas há um outro jeito de voltar a vê-la saindo de
Naxos. Ouvi um pequeno segredo de um sábio, sua amada, Zoe, pertence à família
das fadas, porém não é imortal. Os contos folclóricos antigos contam que existe
uma raça de deuses que vive na Grécia, não é uma história lúdica, embora haja
muitas fábulas falsas e exageradas sobre isso, mas separando a prata pura do
metal enferrujado encontramos a verdade.
‘Eles são espíritos do ar que vivem no monte
Olimpo, e são criaturas iguais aos seres humanos. Eles viviam com o povo de
antigamente, em confidencialidade e em comunhão notável com os filhos de Adão;
e seus descendentes sobreviveram até hoje, ainda no submundo. Há no mundo três fontes de água conhecida, a
quarta não foi descoberta; e os espíritos do ar, ao que os antigos conheciam
como deusas do céu e nós conhecemos como fadas, usam para se refrescar e ganhar
vitalidade. Elas se banham nessas fontes uma vez por ano, na época do
solstício, e são descendentes de Leda, a princesa grega que foi transformada em
cisne. De Leda herdaram a capacidade de se tornar cisnes e voar até as regiões
celestiais através de um véu mais fino que o mais fino tecido e mais leve do
que qualquer coisa no mundo. Ficam nuas para poder usar o véu e quando o vestem
se tornam lindos cisnes.
‘Uma dessas fontes fica onde está localizado o
império da Abissínia, na áfrica, e é uma das nascentes do rio Nilo; o segundo
se encontra num poço fundo na Ásia e o terceiro se localiza na Europa, no reino
da Germânia, na região oeste, num lago encantador conhecido pelos nativos por
lago dos cisnes. Zoe e mais outras donzelas irão até lá, eu tenho certeza. Elas
irão tirar suas vestes e se banharão nuas no lago. O véu é de coloração branca
e junto dele há uma coroa, com a qual elas põem na cabeça. Pegue o véu de Zoe e
esconda-o, e assim sem poder voltar a Naxos, ela ficará com você. ’
“Theofrastus
depois de falar isso ficou em silêncio, assim com eu. Pensei por um tempo até
que respondi a ele: ‘arrume um navio, pois quero partir o mais depressa
possível’. E para cá vim morar como um eremita, e as pessoas me julgavam ser um
homem santo, mas no fundo eu era um louco apaixonado com desejos carnais.
Arrumei a cabana e perto do lago fiquei um bom tempo esperando já achando que
Theofrastus mentira pra mim.
“Na época do
solstício, como Thefrastus disse, chegaram no lago muitos cisnes que quando
tocaram na água se transformaram em doces donzelas, mas nenhuma era minha
amada. Então esperei três verões e no quarto eu a vi. Zoe viera junto com
outras para se banhar no lago. Meu coração parecia que ia explodir, e tomado
pela emoção perdi a razão e o conselho de Theofrastus, então saí de onde eu
estava escondido e exclamei para minha amada: ‘ Zoe de Naxos, meu coração é
teu’. Ela e as outras se assustaram e foram se esconder nos arbustos que
ficavam perto do lago, e oitos cisnes alevantaram vôo no céu, Zoe partira.
“Eu me
desesperei, rasguei minhas vestes chorei e quando me acalmei fui até o local
onde ela havia se escondido antes de fugir, e lá encontrei um anel, que devia
ser dela, este guardo até hoje. Eu esperei por muitos anos o retorno dela, mas
agora estou velho e creio que tem coisas que foram perdidas e não podem ser
recuperadas. Estou velho, e já me encontro nos últimos dias de minha vida, por
isso agradeceria se você ficasse aqui mais um pouco para me ajudar até a morte
me levar.”
Friedbert
concordou. Passou algum tempo e Benno, o velho eremita morreu. E Friedbert
viveu ali por um tempo, esperando ver as ditas donzelas. Quando foi no solstício, três cisnes chegaram
no lago e foram direto aos arbustos que se encontravam numa determinada parte,
e dos arbustos saíram três adoráveis donzelas, lindas e nuas, e começaram a
brincar e a cantar na água. Friedbert que vira tudo, então se enfiou nos
arbustos, se escondendo, e chegou até o lugar onde os três cisnes haviam virado
três donzelas. E lá ele encontrou três véus com três coroas de ouro cada um. A
textura do véu era mais fina que a teia de uma aranha e mais branca que a neve
em si.
Então ele pegou
um dos véus e se dirigiu para cabana escondendo dentro de um baú de ferro. E se
sentou do lado de fora para ver o que iria acontecer. Quando a primeira estrela
da noite apareceu ao entardecer, dois cisnes levantaram vôo. E ele ficou
ansioso em encontrar a donzela.
Ele foi até a
lagoa, mas ela não estava lá. Então foi para casa e acendeu a lamparina,
esperando assim chamar atenção da moça. Tomou o rosário na mão e se pôs a orar.
Então quando terminava um pai-nosso, ouviu um barulho do lado de fora e foi ver
o que era. Era a donzela, linda, nua, tímida querendo ajuda.
O coração dele
disparou aceleradamente. Ela abriu a boca e começou falar, e gesticulava, mas
ele não entendeu nada, pois a linguagem dela era estranha para ele. No entanto
ele entendeu através dos gestos que ela pedia timidamente para ele lhe devolver
o véu. Ele se fez de desentendido e disse que não sabia de véu algum, então levou-a
para dentro e deu a ela uma de suas vestes para ela vestir e frutas para comer.
Ela se sentou
chorando e soluçando sem parar, e ele nem se comovia, pois ficara encantado com
a beleza da moça. À noite, ela deitou para dormir na cabana junto com ele, mas
chorou toda a noite, só parando para enxugar as lágrimas.
Na manhã
seguinte, Friedbert saiu com a donzela para procurar o seu véu, mas ele sabia
onde estava: num baú de ferro na sua casa, bem protegido de roubo.
Enquanto isso no
outro lado da Alemanha, a mãe de Friedbert fora avisada por um dos soldados,
que foi companheiro dele, que seu filho possivelmente havia morrido na fuga. A
mãe chorou como nunca antes, secando suas lágrimas de mãe desesperada em seu
avental.
Tempo depois
Friedbert aparece com a bela donzela e rico na cidade pacata onde a mãe morava;
ficara rico, pois ele e Benno trabalharam na produção de palitos de dentes e
outros utensílios. Ele foi recebido com festa, suas irmãs o abraçaram e
comemoraram e sua pobre mãe se agarrou nele com força não querendo soltá-lo
chorando de felicidade por ver o filho vivo.
Assim depois de
festejar, ele partiu para convidar parentes para seu casamento com a donzela
que se chamava Kalliste. Enquanto o marido estava viajando, Kalliste
experimentava os vestidos de noiva para o casamento. Mas não gostou de nenhum
se queixando: ‘nenhum destes é bom para mim’. Experimentou mais alguns e caiu
num choro falso, pois desconfiava que Friedbert escondia o véu dela e que
supostamente a mãe dele sabia onde estava, e lamentou: ‘eu... t-tinha um véu da
mais pura seda... Ele tinha até uma coroa de ouro e eu poderia usar em meu
casamento, mas eu o perdi.’ Terminou chorando mais ainda.
A velha
sensibilizada sabia onde estava o véu, pois seu filho lhe contara sobre o véu e
pediu para ela esconder de Kalliste, porém não lhe contara porque ele era tão
valioso; então disse: “não chore minha querida, eu sei onde está o seu véu”.
Kalliste, então, se alegrou, e a velha lhe trouxe o véu. Kalliste então colocou
a coroa em sua cabeça e o véu escorreu sobre seu corpo e ela se transformou num
cisne que saiu voando pela janela.
A velha
assustada fez o sinal da cruz e rezou uma ave-maria e um pai-nosso, dizendo: “no
que meu filho foi se meter, com um demônio!” e rezou de novo. Já Friedbert
quando chegou na cidade foi correndo para casa, louco de saudades da amada, louco
para abraçá-la e beijá-la; mas logo soube o que acontecera e teve vontade de
matar a mãe, que assim como os servos achava que o filho tinha se tornado um
necromante, um feiticeiro atiçador de demônios, mas ele explicou toda a
história, quem Kalliste era e sobre o véu. A mãe assustada rezou mais alguns
pai-nossos.
Friedbert ficou
muitos dias consternado, angustiado e desesperado por ter perdido Kalliste. O
jovem então tomou coragem, selou o cavalo e partiu a procura de sua amada. Indo
de um lugar a outro em busca de informações, e muito percorreu, até chegar a
Naxos. [Nota 1]
Quando chegou lá se deparou com uma festa em honra ao príncipe Isodoro
de Paros e Irene, que haviam se casado. Para deixar a angústia de lado,
Friedbert entrou num combate de cavaleiros com lanças em cima de um cavalo. [Nota 2]
Por fim saiu vitorioso recebendo seu prêmio das mãos dos recém-casados.
Nessa ocasião, ele chegou a beijar a bela Zoe, a cumprimentando. Zoe repara que
Friedbert levava um anel muito similar com o que ela tinha, era o anel que
Benno lhe dera e que fora de Zoe. Depois da festa Friedbert foi até o palácio
da adorável Zoe que já era uma senhora e não mais a linda jovem que Benno se
apaixonara. Então Zoe lhe convida para um passeio nos bosques que circundavam o
castelo, um parque. E lhe pergunta:
— Me desculpe a audácia que
me proponho, mas poderia me dizer, jovem forasteiro, onde conseguiu esse anel
que está em sua mão direita? Pois esse anel já me pertenceu, e gostaria de
saber como conseguiu-o?.
— Minha senhora, — disse o ladino — este anel eu ganhei numa
disputa de lanças contra um cavaleiro em meu país. Aí ganhei dele.
— Bom sendo ele desconhecido
ou não, — disse ela — o fato é que o anel me pertence, e você como bom cavaleiro poderia
devolvê-lo para mim como prova de sua gentileza. E como prova de minha
gentileza lhe daria algo em troca.
O plano de Friedbert estava dando certo e ele continua:
— Adorável dama, se fosse o
caso o daria imediatamente à senhora, mas o ganhei numa luta séria, custou o
meu suor e meu sangue. Este anel é uma honra pra mim, pois ganhei com meu esforço.
Porém prometi a mim mesmo que abriria mão desse belíssimo anel, quando arrumasse
uma esposa.
— Sim, eu entendo. Então
proponho escolher uma das minhas servas, aquela que mais lhe agradar aos seus
olhos. Assim a terá, e em troca me dará o anel.
Então foi trazido até Friedbert as moças mais bonitas do reino da rainha
Zoe, estas foram enfeitadas e trajadas para melhor recebimento, porém nenhuma
agradou o jovem que esperava encontrar sua amada. Contudo passaram-se meses e
ele nada decidira. A rainha Zoe já cansada da demora indaga:
— Cavaleiro insensível, me
dispôs a colocar todas as flores de meu jardim à tua disposição e você as
rejeita, não escolhendo nenhuma para ser tua esposa!
Friedbert responde:
— Nenhuma das suas nobres
donzelas despertou minha atenção. O meu coração para elas está frio e morto. A
donzela que desejo não está nos círculos de dança e muito menos é uma das que a
senhora gentilmente propôs pra mim, mas está numa pintura em seu palácio que
não sei se foi criação do artista ou se ela realmente existe.
A rainha curiosa então leva Friedbert até o salão onde havia dezenas de
pinturas de donzelas e de outras pessoas que descendiam de família nobre grega.
Quando chegaram ao salão com as pinturas, ele viu a pintura de sua amada e
correu até ela se ajoelhando e dizendo que era aquela que ele mais desejava.
Friedbert viu que era realmente sua amada, mas não contou a verdade à
rainha. A rainha disse a ele que o nome dela era Kalliste e que ela certa noite
foi passear na praia com suas duas irmãs, mas lá havia um barco atracado e
atrás de um arbusto estava um estranho que a pegou e levou-a para o barco, e
suas irmãs assustadas fugiram; o barco, então, depois de um tempo chegou à uma
terra desconhecida. O estranho a encheu de inúmeras carícias querendo seu amor,
e ela se enamorou dele. Porém ela pensou na sua mãe, nas suas irmãs e na sua
terra natal, e quando um vento favorável soprou na terra desconhecida ela pegou
um pequeno barco e partiu. [Nota 3] Contudo ela estava
apaixonada pelo estranho, e mesmo de volta à sua pátria, ela se sentia infeliz
por não ter o estranho ao seu lado. A paixão dominou seu coração, e lhe causou
profunda dor no peito e arrancou dela toda a alegria e a vontade de viver. Agora
ela estava em eterno descanso.
Friedbert, achando que a sua amada havia morrido, implorou a rainha para
lhe enterrar onde estava o corpo de sua amada, e chorando disse que a rainha
podia ficar com o anel, pois ele já tinha sua amada.
A rainha Zoe não conteve as lágrimas. Então ela aceitou o desejo de
Friedbert, e mandou uma ordem para permitir a entrada de Friedbert na torre. [Nota 4] Friedbert se dirigiu à torre em cima de seu cavalo. Quando chegou lá
com seu coração pulsando, ele entrou e viu sua amada cabisbaixa, os cabelos
cacheados correndo sobre os ombros. Ele se aproximou e viu que ela estava viva.
Ela percebendo a presença dele, olhou, dizendo: “ saia daqui marido enganador.”
Mas ela o amava, e quando ele a tocou, ela foi para seus braços. A rainha Zoe,
fez questão de que fosse celebrado o casamento lá, com todas as honras. Como tudo
já estava resolvido, Friedbert decidiu abrir o jogo e contar quem lhe dera o
anel, contou sobre Benno, o eremita que se apaixonara por ela e que a esperou
por longos anos até encontrar a morte.
A rainha Zoe se lembrou dele, e disse que se lembrava que havia deixado
seu anel ao fugir assustada quando viu aquele estranho homem, não o reconheceu
naquele instante. Disse que depois disso, o marido ciumento destruiu o véu tornando
assim impossível ela regressar ao lago, por isso que nunca voltou. Enquanto o
casal, eles voltaram à Alemanha e viveram até os fins de seus dias, na mais
perfeita sintonia, como um verdadeiro casal apaixonado.
Notas:
[Nota
1] Aqui
verificamos um erro na história: se Friedbert se lembrasse do que Benno lhe
dissera, que Zoe era uma donzela-cisne e que estas viviam em Naxos,
possivelmente Kalliste também era de Naxos. Musaus não pôs a simplicidade e a
sátira comum nos contos orais do folclore alemão em suas compilações e por ser
um conto que foi recolhido no século 18, possivelmente deve haver uma história
base para essa. Há uma semelhança com um conto d’As Mil e Uma Noites: A
História de Hasan de Basra, em que o herói se enamora de uma donzela-cisne.
Sabemos que no folclore, sempre há uma história original que desencadeia
outras, aí surgem as variantes, histórias iguais na maioria dos pontos, mas que
muda em outros. Existe, possivelmente, uma história base para essa, um esboço
contado oralmente que deu origem a esta história. Contudo isso é uma tradução,
um resumo e uma adaptação do original, e por isso para uma análise maior convém
ler o conto original em alemão.
[Nota 2] um duelo medieval em
que dois cavaleiros sobem em cima de seus respectivos cavalos, armados com uma
lança e protegidos por armaduras. O cavaleiro que derrubar o outro primeiro é o
vencedor. Isso demonstra que o conto apresenta um fundo medieval, porém, como
já disse, deve haver uma história base para essa, já que o mito das
donzelas-cisne é primitivo; assim como observou uma vez Jacob Grimm: “A moderna imagem da bruxa na Europa é uma
fusão de tradições pagãs com características medievais.” O mesmo aconteceu
com os contos de fadas que são uma mistura de costumes medievais com mitos
pagãos antigos. Com o decorrer do tempo a história foi se alterando, a história
que deu origem foi esquecida, e uma nova história passou a ser contada. Especialistas
acreditam que os contos de fadas surgiram com os celtas, compare o conto Árvore de Ouro e Árvore de Prata com a
história da Branca de Neve, esse é um
bom exemplo que mostra que todas as histórias folclóricas tinham uma história
inicial, mas com o decorrer do tempo as crenças mudam e as histórias sofrem
transformações, como já citei, aí surgem as variantes.
[Nota 3] Essa história foi
modificada por Zoe, possivelmente, para esconder de Friedbert o segredo das donzelas-cisne,
descendentes de Leda, e das fontes mágicas.
[Nota 4] Na verdade o nome
usado é mosteiro, mas como se trata de uma adaptação cortei esse detalhe.
Resumo, tradução e adaptação: Vagner Caldas
Fontes de pesquisa:
2.
Wikipédia em inglês, artigos: O Lago dos Cisnes
(balé de Tchaikovsky), O Culto à Bruxa Hipótese e Johan Karl August Masaus