Na imagem um homem amarra uma corda no pescoço de seu cão e
outro a planta para poder extraí-la do solo. Ilustração do manuscrito Tacuinum Sanitatis, século
XV.
Fonte da imagem: Wikipédia
A raiz da mandrágora tem
coloração castanha e pode atingir a
impressionante marca de um metro de profundidade. Sua forma é antropomórfica
(possui ramificações que lhe dão uma certa semelhança humana, aparentando ter
um tronco, pernas e até mesmo – com muita imaginação –
uma cabeça e órgão genital) e possui inúmeras propriedades terapêuticas, e por
isso, possivelmente, os antigos acreditavam que essa planta era, de uma certa
forma, mágica e meio-humana.
Na antigüidade, assim como
na idade média, aparecem livros e pergaminhos, mostrando a raiz da mandrágora
com forma humana: um homem com uma longa barba e uma mulher de longos cabelos
ou, ainda, como um ser humanóide. Plínio, o velho; dizia que havia duas
espécies de mandrágoras: o macho, cuja raiz é branca e a fêmea, cuja raiz é
negra.
Dioscorides (em De Materia Medica, início do século 7)
diz que a fêmea é chamada Tridakias e
o macho, Morrião; mas isso não corresponde
a realidade, já que raiz da mandrágora não é dióica.
A raiz era usada como
ingrediente nas poções do amor e bruxas faziam sexo com a raiz da mandrágora,
nisso nascia um ser humano normal, só que sem alma, sentimentos e que nunca
amaria ninguém. No folclore anglo-saxão, era dito que podia expulsar demônios
do corpo (nos casos de possessão demoníaca) e afastar todo o mal, da pessoa,
quando desidratada e usada como amuleto.
Outra lenda dizia de demônios que
viviam em suas raízes. Diziam, ainda, que a mandrágora nascia no local onde
havia sido enforcado um homem, pois acreditavam que por ter o pescoço quebrado,
o morto ejaculava, e onde caía seu sêmen, nasciam mandrágoras; sendo, o sêmen,
a semente da mandrágora. Acreditavam, também, que a mandrágora trazia
fertilidade, sendo usados seus frutos para se obter uma criança, como aparece
no capítulo 30 do Gênesis, na qual, supostamente, os antigos acreditavam que
esta planta deixava a mulher fértil.
Ritual para retirá-la do solo
Teofrasto diz que para ser
colhida, deve-se desenhar três círculos com uma faca em torno dela, olhar para
o nascente e recitar encantamentos.
Plínio diz o contrário:
deve-se fazer três círculos em volta dela com uma espada e olhar para o poente.
Outra tradição, mais
tardia, diz que a mandrágora gritaria
quando arrancada do solo. Esta dava seu grito de dor, pois estavam lhe tirando
a vida, tirando de seu conforto no solo, como se tirassem um bebê de sua mãe.
Ela é uma planta e toda a planta arrancada da terra, morre. O mesmo acontecia com a mandrágora; mas por
ser meio-humana, gritava de dor.
Contudo o seu grito era
mágico e fatal, e todos que ouviam seu grito de dor, morriam.
“Esta raiz tem um enorme poder mágico, mesmo sendo um
cachorro a arrancá-la, ele ainda assim morrerá.”
Herbarius
Apuleia, 1481
O manuscrito de
Discorides, do ano de 520, mostra uma ilustração, na qual há uma mandrágora
presa por uma corda atada no pescoço de um cão morto, caído, com a boca aberta.
Paracelso, também, diz
para se ter precauções à colher a planta, pois se for feito de maneira
incorreta o ritual, a pessoa pode ficar amaldiçoada ou ser assolada por
terríveis calamidades.
O único jeito de
arrancá-la do solo, sem morrer, era numa noite de lua cheia. Atava-se uma ponta
da corda no pescoço de um cão preto, e a outra na mandrágora. Não davam nada de
comer ao cão, que ficava faminto. Nisso ficavam a uma longa distância, com os
ouvidos tapados com cera. Logo depois chamavam o cão com um prato de comida, e este,
louco de fome, corria em direção aos seus senhores, no momento em que avançava
com força, a mandrágora era arrancada, soltando um grito ensurdecedor e
insuportável, matando assim o cachorro, e seus mestres ao longe estavam com os
ouvidos obstruídos de cera.
Depois era pega, lavada e
usada nos mais diversos fins, como: amuletos, ingredientes para poções... A
mandrágora trazia ao seu mestre prosperidade, abundância e fertilidade. Era, finalmente,
vendida por um preço bem caro, pois o risco para colhê-la a tornava rara.
Explicações para as lendas
Possivelmente, pelas
inúmeras propriedades terapêuticas que a mandrágora possui, ela foi quase
endeusada, e foi associada à magia pelos inúmeros benefícios que ela trazia.
Era usada nas poções de amor, pois é uma planta afrodisíaca, e, supostamente,
acreditavam que ela podia levar ao amor, já que o sexo está ligado à paixão.
Sem contar que as propriedades altamente químicas dela levavam o seu usuário a
ter alucinações e sonhos estranhos.
Pode ter sido associado à
bruxaria por causa dos delírios que ela causava; e por ter certa semelhança
humana, foi dita que gritaria quando a arrancassem, que havia raízes dos dois
sexos...
Por ser uma planta de inúmeras
propriedades químicas, benéficas e maléficas; além da sua raiz aparentar, para
as mentes mais férteis, uma certa aparência humana; não é a toa que o homem
antigo, acostumado com seus ritos pagãos, a tenha a divinizado.
Fontes de
pesquisa:
1.
Wikipédia em francês, artigo: Mandrake.
www.wikipedia.com;
2. Wikipédia em português,
artigo: mandrágora e alraune;
4.Allan e
Elizabeth Kronzek, O Manual do Bruxo, editora Sextante;
5.Aurélio Buarque de
Holanda, dicionário de língua portuguesa, editora Nova Fronteira;
6. Jorge Luis Borges, O Livro dos Seres
Imaginários, editora Companhia Das Letras, 2007, São Paulo, Brasil;
7. Enciclopédia
Delta Universal, ano? Editora?
8. http://www.kerigmadidaque.net/mandragora.htm
9. Bíblia Sagrada, tradução da CNBB; editoras:
Loyola, Ave-Maria, Paulinas, Paulus, Santuário, Salesiana e Vozes; 2ª edição;
São Paulo; 2002.