É um livro escrito por Margaret
Murray, publicado em 1921, que defende a idéia de que a bruxaria na
Europa surgiu com um povo que adorava um deus com chifres, e por isso os inquisidores
da caça às bruxas, na idade média, compararam-no com o Diabo.
O livro tenta explicar do porque de tanto alvoroço na Europa
da Idade Média em relação às bruxas. Citando que o culto começou com uma raça
pré-ariana, que influenciou os árias a praticar ritos de magia envolvendo práticas
sexuais, de sacrifícios e as mais conhecidas: ritos de adivinhação, poções do
amor... e a adorar um deus chifrudo.
Murray se baseou em relatos dos julgamentos de caça às
bruxas, e observa que muitas mulheres adoravam um deus com chifres, e diziam ser
este o Diabo, mas na visão de Murray esse deus com chifres fora confundido com
o Diabo. Para a teoria: os antigos europeus adoravam um deus com chifres,
Murray chegou a essa idéia quando comparou os deuses Pan e Cernunnos com os
relatos das bruxas julgadas na Idade Média.
Esse culto antigo ainda seria praticado e Murray cita nomes
de supostos praticantes dessa religião pagã, os mais famosos são Joana D’Arc e
Gille de Rais, pois para Murray, Joana D’Arc foi acusada de bruxaria e queimada
por pertencer a essa seita. Essa religião seria nada mais, nada menos, do que
uma seita secreta, onde até reis acreditavam num deus chifrudo e em crenças
pagãs antigas. Embora convertidos ao cristianismo, muitos reis britânicos e
entre outros, praticavam antigos ritos e cultuavam esse deus de chifres.
Muitas mortes precoces de reis britânicos aconteciam como
uma espécie de sacrifício.
Murray cria o termo culto
diânico, referente à adoração à Diana, deusa greco-romana, e Dianus, outro
deus greco-romano. Diz que os pagãos adoravam essas duas divindades em
particular e logo depois passaram a adorar o deus chifrudo. As bruxas eram bem
organizadas, se reuniam em assembléias à noite, e praticavam seus rituais. Como
Murray cita no livro:
“... Cooper afirma que
‘os bruxos e bruxas se reuniam em um local e hora designados, o diabo aparece,
então, para eles em forma humana’...”
Capitulo: 2.
Como um ser humano_ (a) homem
Citação tirada
a partir de Cooper, Treatise Pleasant,
p. 2, e que consta no livro.
A posição da mulher no culto podia ser associada ao da
deusa-mãe, porém foi substituída pela divindade masculina. A divindade feminina
ficou então oculta, contudo a mulher era freqüentemente identificada com a
Rainha das Fadas ou a Rainha Elfin.
Essa suposta religião pagã secreta foi praticada até o
século 20. Na Idade Média, muitos indivíduos diziam ser cristãos, eram
batizados e iam à igreja, porém continuaram secretamente a adorar um deus com
chifres e a ir em cultos à noite. Muitas festas que são celebradas ainda hoje
são resquícios dessa antiga religião, A Festa de São João é um exemplo.
Um livro
pseudohistórico
O livro foi abraçado por muitos na época em que foi
publicado, assim como foi severamente criticado e com razão, veja porque:
Naquela época pouco se sabia sobre estudos históricos e
antropológicos, tudo que se tinham eram relatos, mas não teorias. Com o passar
das décadas os especialistas em história e em antropologia viram que Pan, um
deus grego da natureza, e Cernunnos, um deus celta que representava a natureza,
eram deuses cultuados pelos antigos indo-europeus, porém jamais as bruxas da
Idade Média os cultuavam como um único deus.
Os antigos indo-europeus, assim
como os povos antigos, cultuavam diversos deuses, pois todos os povos da antigüidade
eram politeístas, o monoteísmo só surgiu muito depois com os hebreus tendo como
base o deus Aton egípcio e o dualismo persa de Zoroastro.
Os relatos das bruxas não são exatos e muito menos corretos,
já que hoje se sabe que a caça às bruxas foi feita para exterminar com o
paganismo remanescente na Europa. Antes da caça às bruxas, no início do domínio
romano e logo após a queda de Roma, a Igreja de Roma, que sobreviveu à invasão
bárbara, influenciou estes povos bárbaros que eram pagãos, então proibiu o
culto à outros deuses com tempo, e orientou que o único deus que podia ser
adorado era o Deus Cristão.
Contudo o
paganismo sobreviveu por muito tempo até ser redescoberto na Idade Média, um
período cheio de problemas como a peste negra. Com a publicação do livro Malleus
Maleficarum a Igreja de Roma declarou guerra ao paganismo
remanescente, e milhares de pessoas foram queimadas em fogueiras acusadas de
bruxaria.
Joana D’Arc, por exemplo, foi queimada não por ser bruxa,
mas por ser inimiga da Inglaterra.
Murray cita que uma raça pré-indo-européia influenciou os
arianos, pois de onde surgiu a idéia de um deus chifrudo e dos ritos de magia;
contudo as práticas de magia datam de antes do início da civilização humana e
surgiram com o homem primitivo há 40.000 anos, logo depois o homem se espalhou
pelo globo levando suas crenças similares em magia e em deuses até estas
sofrerem alterações por causa do tempo e do isolamento. A crença em deuses e em
magia é algo comum aos povos humanos, assim como a língua.
A Festa de São João é uma festa pagã baseada nas antigas
crenças pagãs que invocavam o sol através da chama (fogueira) e tinhas ritos de
fertilidade. Os antigos europeus celebravam o solstício, o nome verdadeiro d’A
Festa de São João é festa do solstício de verão, mas a igreja não podendo
combater essa tradição decidiu ao invés de derramar mais sangue, cristianizar a
festa colocando o nome de: Festa de São João.
Contudo não existe um culto
secreto e muito menos A Festa de São João é um exemplo disso, o que existia era
uma religião primitiva que valorizava a natureza em todas as formas e por isso
praticava ritos de fertilidade e determinados costumes.
Murray acertou em dizer que as antigas religiões pagãs eram
praticadas juntos com os ritos cristãos no início:
“... A grande maioria da
população continuava a seguir os seus antigos costumes e crenças com um verniz
de ritos cristãos.”
Trecho do
livro: O Culto das Bruxas na Europa Ocidental
Murray usou relatos recolhidos pelos inquisidores na época
de caça às bruxas, na Idade Média, e esses relatos são errôneos, equivocados,
antipagãos e de fundamentalismo cristão.
Um dos relatos encontrados no livro:
“Para a bruxa de
Yorkshire, Alice Huson, 1664, ele apareceu ‘como um homem vestido de preto em
cima de um cavalo mouro’ e, novamente, ‘como um homem vestido de preto em cima
de um cavalo negro, com os pés fendidos.’”
Capitulo: 2.
Como um ser humano_ (a) homem
Citação de
Hale, pag. 58
Jacob Grimm observou certa vez, sabiamente:
“A moderna imagem da bruxa na Europa é uma fusão de tradições pagãs com
características medievais.”
A Europa medieval teve influencia pagã, mas
não havia um culto organizado, secreto e que sobreviveu até o século 20.
O argumento de Murray é equivocado e
totalmente lúdico, se observa isso nos relatos dos inquisidores que aparecem no
livro. Essa suposta “teoria”, de certo, surgiu da imaginação da própria Murray.
Um exemplo de que ela não é nem de perto uma boa antropóloga é que a maioria
dos relatos dos inquisidores está em francês e ela não os traduziu, mostrando
um conteúdo antididático e confuso, já que uma pessoa comum, e até mesmo um
acadêmico, só poderia lê-lo sabendo francês.
Portanto o livro se enquadra na categoria
de mistérios e confusões, e para ciência é um livro
pseudohistórico e pseudocientífico.
Influência
H.P. Lovecraft foi inspirado pela teoria de Murray e esta
aparece nos Mitos de Cthulhu, bem
como no conto mais famoso do autor: O
Chamado de Cthulhu.
Fontes de pesquisa:
3. Wikipédia em
inglês, artigo: Margaret Murray.
4. O Chamado de
Cthulhu, conto de H.P. Lovecraft