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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A História de Hassan de Basra (Conto d'As Mil e Uma Noites)

A História de Hassan de Basra, Hasan de Bassorah ou de Hasan al-Basrí e as Ilhas Wák Wák (ou ainda, na versão de Payne: Hassan de Bassora e A Filha dos Jinns) é uma história das Mil e Uma Noites, geralmente longa, cujo o herói se apaixona por uma princesa pássaro.

A história é parecida com a de Simdbad, o Marujo, só que na história de Hassan há aparição de gênios, que são peças fundamentais na história, como no conto de fadas persa (presente nas Mil e Uma Noites): O príncipe Hasan e a fada Paribanu.¹

História

No início da história, Hassan é enganado por um persa que lhe dá um bombom que contém bangue, nisso Hassan come e desmaia. O persa então o encerra numa caixa e o leva para um navio. Depois Hassan é libertado e o persa o convence a ajudá-lo. Hassan é enganado novamente pelo persa e perdido acha um enorme palácio, e nele viviam princesas filhas de um poderoso gênio, elas o acolhem bem e o tem como um irmão. Então, certa feita, as princesas filhas do gênio, que não morava com elas, vão viajar e deixam com Hassan todas as chaves dos cômodos do palácio mágico, orientando ao jovem para que não abra uma porta em especial. 

Durante semanas Hassan ficou sozinho, embora tivesse provisões, ele sentia falta da companhia de alguém. Movido pela curiosidade, decide abrir a porta proibida e dá de cara com um enorme cômodo que continha um enorme jardim e uma piscina que era sustentada por um colossal chafariz. Nisso ele vê entrar 12 aves do paraíso, lindas e radiantes. Ele observa atrás de algumas plantas as aves retirarem uma espécie de roupa-pele, e quando estas as tiram viram lindas moças de beleza estonteante. Hassan se apaixona pela líder das donzelas-pássaro, mas estas vão embora, deixando Hassan triste pela paixão não correspondida.

Quando as irmãs chegam, estranham o comportamento de Hassan e este diz o que fizera: abrira a porta da qual elas o proibiram, e se apaixonara perdidamente pela donzela que se transformara em pássaro. As irmãs contam que aquelas donzelas eram filhas de um outro gênio, que vinham em certos períodos tomar banho naquele local e depois migravam de volta às suas ilhas, e que o único jeito dele à tê-la era roubando suas vestes de pássaro.
Quando as donzelas-pássaro voltam, Hassan se esconde e depois rouba a veste dela, dizendo à ela que se apaixonara por ela e que queimara sua veste, as irmãs da donzela-pássaro partem, pois sem sua veste não poderia retornar à sua terra. 

Hassan se despede das irmãs e parte com ela, e quando chega em Basra se casam, e passado um tempo, ela lha concebe dois filhos.
Hassan no palácio havia ficado amigo de duas princesas que o consideravam como um irmão. Hassan então sentindo falta das irmãs adotivas, volta para o palácio, nisso a mulher de Hassan aproveita para fugir, pois descobrira à muito que seu marido mantinha sua roupa guardada num local escondido, ela pega seu vestido de volta e voa com seus dois filhos para as ilhas de Wak Wak, dizendo à mãe de Hassan que se ele quiser ver seus filhos de volta deve viajar até aquelas ilhas.

Hassan quando volta da viagem encontra a casa as escuras e sua mãe chorando. Ela então conta o ocorrido, desesperado e sem ter o que fazer, ele volta ao palácio das irmãs e pede ajuda a elas. Depois de anos a fio viajando para chegar até as distantes e misteriosas ilhas Wak Wak, ele encontra com muito esforço a mulher e os filhos. Ele consegue por fim resgatá-los de volta depois dum confronto com a irmã mais velha de sua mulher que a castiga por ter se casado com um mortal às escondidas, sem elas saberem.
Hassan, a mulher e filhos fogem em cavalos mágicos voadores que os levam pra casa.

Nas Mil e Uma Noites

A História de Hasan de Basra apareceu primeiramente no ocidente nas traduções das Mil e Uma Noites de Edward Lane, John Payne e Richard Francis Burton


Paralelos com outras histórias

O interessante de se notar é que essa história se assemelha a contos de fadas europeus como: Os Seis Cisnes recolhidos pelos Grimm, O Destino dos Filhos de Lir na mitologia céltica e finalmente O Véu Roubado (Der Geraubte Schleier), conto de fadas alemão recolhido (erroneamente, segundo alguns críticos) por Johann Musäus, que se assemelha na parte em que Hassan rouba a veste para poder ter sua amada, e na transformação desta em pássaro; no caso do conto alemão, ela se transforma num cisne, já em Hassan a donzela é uma ave do paraíso. Há também uma semelhança com romance Sayf Zú al-Yazan.

Existe, ainda, uma variante dessa história encontrada nas Mil e Uma Noites chamada A História de Janshah. Não sei se a história de Hasan de Basra foi baseada na história de Janshah ou foi o contrário.


Fontes de pesquisa:

1.     Richard F. Burton, The Book of the Thousand Nights and A Night-  volume eight- A Plain and Literal Translation of the Arabian Nights Entertainments. Projeto Gutenberg.

Referências:

¹ Nota [FN#5], The Book of the Thousand Nights and a Night- volume eight- A Plain and Literal Translation of the Arabian Nights Entertainments, Translated and Annotated by Richard F. Burton.


 
História resumida:

Abaixo está um resumo completo dessa imensa narrativa que se encontra na edição 8 do livro de Richard Francis Burton, O Livro das Mil e Uma Noites, uma coleção de dez volumes de contos, baseada em Calcutá II (Livro das Mil e Uma Noites publicado em Calcutá em 1839-1842).

História

Hassan era o filho mais velho dos dois irmãos, filhos de um rico comerciante em Basra. Depois da morte do pai, Hassan começou a gastar tudo que seu pai lhe deixou em festas e diversão, ficando pobre. Um amigo do seu falecido pai, sensibilizado com o destino triste de Hassan, lhe ensinou a arte de ser ourives (fabricante e vendedor de artefatos de ouro e prata).

Mas certa feita um persa chegou em sua loja persuadindo o rapaz que era possível transformar qualquer metal em ouro puro.

O persa e Hassan foram almoçar. Depois do almoço o persa lhe deu um bombom e Hassan comeu, e desmaiou. Hassan foi colocado num caixote de madeira e o persa levou o caixote (contendo dentro Hassan desacordado) até um navio. Lá viajaram até uma ilha, no trajeto o persa acordou Hassan, e lhe pediu desculpas dizendo que se ele lhe ajudasse lhe daria inúmeras riquezas das quais nenhum homem jamais sonhara. Hassan aceitou as desculpas e eles desembarcam numa ilha gigantesca, cuja as montanhas se elevavam nos céus. O persa e Hassan chegaram até uma determinada montanha onde o persa lhe diz:

- Hassan, meu filho! Lá em cima daquela montanha há uma madeira muito preciosa, ela é mágica. Façamos o seguinte, eu te darei uma faca, e te enrolarei em um couro de animal e irei costurá-lo em volta de ti. Nisso os abutres que habitam essa região irão sentir o cheiro do couro e te levarão até o pico. Quando sentir que está em terra firme pegue a faca, rasque o couro e afugente as malditas aves. Depois jogue até mim a lenha.

Hassan ouviu e obedeceu (ditado árabe), e o persa deu a faca à Hassan, enrolou em volta dele o couro e costurou. Nisso deixou Hassan abandonado por instantes, até que surgiram as enormes aves, pois naquela ilha tudo era gigantesco até os abutres, que agarraram Hassan dentro da bolsa de couro e o levaram até em cima, quando Hassan sentiu que estava em terra firme, rasgou a bolsa de couro e afugentou as aves. Em seguida chamou o persa que se escondera e lhe jogou algumas lenhas, Hassan então perguntou ao persa:

- E agora como irei descer?

E o persa:

- Pois agora fique aí, garoto burro!

E Hassan entristecido pelo maldito persa, ali ficou até que avistou um palácio que ficava nas nuvens e foi até lá. Lá foi recebido por duas lindas jovens que lhe informaram que aquele palácio era de um gênio, que era pai delas. Elas tinham mais sete irmãs que estavam caçando enquanto elas cozinhavam e arrumavam o palácio.

Horas depois as irmãs chegaram, e nisso Hassan já era considerado parte da família, principalmente pelas duas jovens que primeiro o encontrara, que se auto-proclamavam irmãs de Hassan. E por algum tempo Hassan ficou naquele palácio até que certa vez as sete donzelas tiveram que viajar.

E as duas donzelas que Hassan simpatizava, lhe deram todas as chaves do palácio alertando sobre uma em especial, cuja chave abria uma porta, da qual Hassan não deveria em hipótese alguma pensar em abrir. Hassan ficou então semanas sozinho sem companhia de ninguém. Ele abriu todas as portas exceto aquela que fora advertido pelas irmãs a não abrir.

E então a curiosidade foi maior e ele abriu a estranha porta. Nisso ao invés de se deparar com um imenso cômodo, se deparou com um lindo jardim dentro daquele palácio, cujo o teto era abobado e imenso. Indo além, Hassan viu uma imensa piscina que ficava depois do imenso jardim. Até que entrou pela imensa janela, doze aves, e as aves tiraram suas plumas e viraram lindas moças, que foram direto a piscina tomar banho. Hassan se apaixonou por uma delas, mas permaneceu escondido e elas não notaram sua presença, logo depois foram embora.

Quando suas irmãs “adotivas” chegaram, ele contou o que havia feito e que estava apaixonado por uma das moças-pássaro. Suas irmãs lhe contam que o único jeito dele a tê-la, era roubando as vestes da amada quando esta viesse novamente tomar banho com suas irmãs. Hassan então assim fez, e a pobre moça procurou e procurou a veste, mas nada achou, então chorou, pois sem a veste não poderia retornar a seu país (as ilhas Wak Wak). Suas irmãs então a ajudaram a procurar, nisso Hassan apareceu dizendo que como se apaixonara por ela, que queimara a veste para ela não retornar a sua terra e para ficar com ele. As irmãs da moça então a deixaram, e sem escolha, ela ficou com Hassan. Tempos depois Hassan retornou a Basra para junto de sua pobre mãe que sofria pensando que o filho estivesse morto.

Hassan retornou casado e rico, pois recebera muito ouro como presente de suas irmãs. Depois de um longo tempo a mulher de Hassan teve dois filhos, e Hassan sentindo saudade das irmãs viajou novamente ao palácio delas, mas antes advertindo a mãe que a veste de pássaro de sua mulher estava numa caixa, Hassan achou melhor enterrá-la, e assim disse para mãe não contar sobre o paradeiro da veste da mulher, pois se voltasse e não encontrasse a mulher ele se mataria. A mãe então obedeceu e Hassan partiu.

Enquanto Hassan estava em viagem, a mãe de Hassan levou a mulher dele para tomar banho na praça de banhos públicos. Nisso uma mulher que tudo observava notou a linda dama tomando banho e foi até sua senhora, pois era escrava da senhora Zubaydah, mulher de um poderoso califa. E ela contou a sua senhora sobre a beleza da moça e de seus filhos, que tomavam banho na praça pública de banhos dos árabes. Zubaydah então manda a serva trazer a moça. E quando a traz, com seus dois meninos e a mãe de Hassan ao seu lado, pergunta:

- O que fazes linda dama vivendo só com essas duas crianças e com essa anciã?

A mulher de Hassan responde:

- Eu não faço nada, somente cuido de meus filhos. Meu marido está viajando e minha sogra, esta anciã, cuida da casa.
- Nunca vi mulher alguma com beleza tão inigualável quanto a sua, e seus filhos são as crianças mais lindas que já vi na face da terra. Diga-me de onde és? Mas primeiro sentem-se.

Elas se sentaram e a mãe de Hassan disse:

- Desculpe senhora, mas eu e minha nora temos coisas para fazer em casa...

A mulher de Hassan interrompe:

- A senhora tem, eu não!
- Mas... - disse a mãe de Hassan num ar de preocupação.
A senhora Zubaydah então disse:
- Se quiser ir, nobre senhora, vá, mas vejo que esta dama quer ficar.

A mãe de Hassan, então assim ficou. E a mulher de Hassan contou como o conheceu. E ainda disse:

- Eu sou princesa do reino das pessoas-pássaro, eu tenho um lindo vestido feito da mais pura seda e todo adornado de penas, porém minha sogra e meu marido escondem de mim por medo de que eu fuja o vestindo, pois se eu o vestir me torno um lindo pássaro, mas eu jamais faria uma coisa destas com meu marido, pois o amo.

Zubaydah manda a sogra trazer o vestido dizendo:

- Não tem pena de tua nora, triste e incapaz de nada. Se realmente és filha de Alá vai até em casa e busque o vestido.

Mas a mãe de Hassan disse:

- Oh! Minha senhora, ela está mentindo, ela nem tem esse vestido magnífico.

A mulher de Hassan contrapõe:

- Tenho sim, meu marido o lacrou e o enterrou no nosso pátio, mas essa senhora não me deixa nem chegar perto do lugar.

A senhora Zubaydah, tirou um colar que usava no pescoço e deu à velha dizendo:

- Eu lhe dou este colar e você me traz o vestido, depois que eu o ver lhe entrego de volta e vocês vão embora.

A velha então falou onde ele estava, mas disse que não iria buscá-lo. Então a nobre senhora mandou um servo ir buscar o vestido.

A pobre mãe de Hassan se arrependeu e foi de atrás do servo, mas ele já estava em casa, e ela mesma o levou à senhora Zubaydah, que quando o viu se encantou e perguntou a mulher de Hassan: “É este seu vestido?” E ela respondeu: “Sim nobre dama”. E então pegou, o vestiu e enrolou seus filhos juntos, virou um pássaro e alevantou vôo, e antes de ir embora disse a mãe de Hassan:

- Diga a Hassan que se quiser ver seus filhos, eu moro nas ilhas de Wak.
E voou para longe levando seus filhos junto. Quando Hassan retornou soube do ocorrido e quase morreu de desespero. Sua mãe pediu desculpas e disse que sua mulher havia lhe dito que morava nas Ilhas de Wak. Hassan desculpou a mãe e foi atrás da esposa e dos filhos.

Hassan voltou à casa das irmãs que entendiam sobre magia e contou o que ocorrera, e que sua mulher morava nas Ilhas Wak Wak (em outras versões usa-se o termo: Wak Wak mesmo), elas então o ajudaram a chegar lá. E durante muito tempo navegou até as ilhas de Wak. Lá recebeu ajuda de uma velha que servia a rainha das princesas pássaro, mas que logo o advertiu:

- Sua mulher está na sétima ilha das ilhas Wak Wak. Uma jornada de sete meses. Aonde iremos há tantos pássaros que com o barulho do vôo deles, nada escutaremos; os uivos dos lobos e os risos das hienas nos ensurdecerão; cruzaremos pelo país do fogo, cuja fumaça cobre os céus e nada enxergaremos; no final desta mesma terra existe uma árvore cujo os frutos são cabeças de homens, cabeças dos filhos de adão, quando o sol nasce eles gritam: "wak! wak! glória ao deus criador, khallák-al!” E quando nós ouvimos seu choro, sabemos que o sol se levantou. De modo igual, ao entardecer, as cabeças dão o mesmo grito: "wak! wak! [Nota 1] glória a al-khallak! E assim sabemos que sol se pôs.

Hassan e a velha passam por todos esses perigos e vão até o castelo da rainha dos pássaros. Que quando chegam lá, ela indaga em ar de fúria a velha que era sua serva:

- O que este maldito mortal quer aqui?!
- Ele está atrás da esposa e filhos, minha senhora.
- Mas mortal nenhum tem acesso as nossas ilhas!

Hassan então contou que por suas irmãs serem filhas de um gênio e serem hábeis feiticeiras conseguiu chegar àquelas ilhas. Hassan ainda lhe contou sua história. A rainha então ordenou que todas as moças fossem levadas ao palácio para Hassan identificar qual era sua mulher, e se ela realmente estava naquela ilha. Todas as moças da ilha foram apresentadas na frente de Hassan, mas nenhuma era sua esposa.

A rainha ficou furiosa, e mandou cortarem a cabeça de Hassan, nisso a velha se ajoelhou implorando pela alma do infeliz jovem dizendo:

- Oh! Minha senhora poupai esse pobre jovem, ele nada fez.
- Fez sim, penetrou nas nossas ilhas e descobriu nossos segredos.
- Sim, mas falta o rosto de uma dama da ilha que ele ainda não viu!
- De quem?
- Da senhora, grande rainha!

- Mas isto é um absurdo. Nunca vi este forasteiro antes!
E para provar que jamais vira Hassan, a rainha tirou o véu que cobria seu rosto, e Hassan desesperado, quase morreu dizendo:

- É ela! É ela! Você é minha esposa!
Ela deu risada e disse:

- Mas não pode, nunca o vi antes. Sou solteira e todas aqui em meu reino bem sabem que não tenho filhos e nunca me ausentei em anos de meu reino? Diga-me rapaz como é sua mulher?

- É igual à senhora. A mesma linda face, o mesmo lindo tom de voz, a mesma altura. Tudo na senhora é igual em aparência à minha mulher.

A rainha ordenou que o levassem a uma sela, mas para que não o maltratassem e ordenou a um servo para ir buscar os dois filhos de sua irmã mais nova Al-Manar Sana. E em seu pensamento: “Só pode ser Al-Manar Sana, ela é igual a mim.” O servo chegou ao palácio onde Al-Manar Sana, morava e lhe disse que sua irmã estava com saudade dos sobrinhos e os desejava ver.

Al-Manar Sana muito desconfiada, mas sem desobedecer a irmã que era a rainha, arrumou os filhos e eles foram. Quando chegaram foram recebidos com beijos e abraços pela tia. A rainha ordenou que buscassem Hassan, e quando ele chegou no salão do palácio, reconheceu seus dois filhos, Nasir e Mansur, e disse:

- Meus filhos!
Os meninos olharam para ele e foram ao seu encontro dizendo:
- Pai! Pai! ...

Pai e filhos se abraçaram e Hassan chorou de emoção em ver os filhos. A rainha furiosa manda um servo buscar a irmã, dizendo que agora queria vê-la. E expulsa Hassan do palácio e o manda voltar para sua casa, pois aquela não era terra de mortais.

Al-Manar Sana, a irmã da rainha, então chegou ao castelo e seus filhos foram até ela dizendo: “O papai mamãe! O papai está aqui!” A rainha nem cumprimentou a irmã e já foi perguntando:

- Quem é o pai dessas crianças? Casou-se as escondidas de teu pai e tuas irmãs?
- Eu... Eu...
- Prendam-na – disse a rainha irritada com a mentira da irmã.

A rainha então mandou uma mensagem a seu pai por um servo, contando o ocorrido e pedindo a permissão de castigar a irmã. O pai, o grande rei, então mandou o mesmo servo dizer que pelo o que Al-Manar Sana havia feito, merecia ser castigada, e deu autorização total a filha de castigá-la a seu modo e inclusive com a autorização de até matá-la se essa fosse a sua vontade.

A rainha então bateu na irmã e a torturou até ela desejar ter morrido para não ter que sofrer mais.

Hassan, triste e só, vagueou por aquele reino, muito cabisbaixo, pensando nos filhos e na mulher. Nisso viu dois meninos brigando, por um bastão e um goro. Hassan se aproximou e perguntou:

- Pra que brigar por esses dois objetos? Não pode um ficar com o bastão e outro com o goro, ou o contrário?
E um deles responde, sem deixar de puxar o goro e o bastão:
- Somos filhos de um mágico já morto que nos deixou esse goro e este cetro.
- E daí? - indagou Hassan - Que um fique com o bastão e o outro com o goro, ou vice-versa!

E o outro irmão responde:

- Mas acontece caro senhor que estes dois objetos possuem propriedades mágicas. O goro deixa invisível quem o usa, já o bastão convoca o grande exército de Jins [Nota 2] que só obedece o portador desse bastão.


Hassan então diz:

- Se me permitirem minha audácia: Façamos o seguinte, vocês me deixam o bastão e o goro comigo, e daí eu vou atirar uma pedra a uma certa distância, e quem chegar lá primeiro será o dono desses dois objetos.

E os dois concordaram e deram os objetos a Hassan que pegou uma pedra e jogou a uma distância tão grande que a pedra se perdeu de vista, e então os dois saíram em disparada. Hassan então vestiu o goro e sumiu, e viu que eles falavam a verdade.

- Mas não é que aqueles pestinhas tinham razão!
E Hassan então fugiu com o goro e o bastão, deixando os pobres garotos pra trás.

Hassan então foi até a casa da velha que o ajudara, e começou a balançar o armário, ela assustada diz:

- Sai da minha casa, satanás!

E Hassan tira o goro e diz:

- Não sou satanás, sou Hassan!

A pobre velha abraçou Hassan lhe contando que a rainha castigara Al-Manar Sana, esposa de Hassan.

Hassan então vai até o palácio e vê a mulher quase morta, toda ferida pelos castigos que sofreu da irmã. E tira seu capuz, e seus dois filhos brincando ali perto diziam:

- Mamãe! Mamãe! É o papai!
- Seu pai deve estar morto! - disse ela já sem esperanças.

Nisso Hassan, foi até a cela da mulher e prometeu que à noite iria tirá-los dali. Ela pediu desculpas por tê-lo abandonado e prometeu não repetir o erro.

Hassan à noite foge com a mulher, a senhora idosa que o ajudara (pois se ela ficasse corria o risco de ser morta, porque ajudara Hassan) e os filhos.


Hassan invoca pelo bastão o exercito de Jins e estes se apresentam dizendo não poder os levá-los nas costas, então providenciam 3 cavalos alados para levá-los. Hassan pega o primeiro indo Nasir junto com ele, Al-Manar pega o segundo indo Mansur junto com ela, e a velha leva os suprimentos da viagem em sua garupa.

Hassan depois de muito viajar, chega ao palácio das irmãs, onde festejam e recebe sacos e sacos de objetos de ouro e outros, e segue em viagem até chegar em casa. Nisso lhe parece o pai dos dois meninos, que era na verdade um gênio e não havia morrido, lhe pedindo os objetos, Hassan então indaga:

- Sei que esses dois objetos mágicos são de seus filhos e que eu os roubei, mas temo pela segurança de minha família já que fugi com minha mulher, uma escrava da rainha das Ilhas Wak e com meus filhos.

- Nada tema! Pois se me entregar meus objetos te darei toda a proteção que tu precisares, juro por Alá, o senhor do mundo!


E Hassan devolveu o objeto. E assim eles viveram felizes por muito tempo, até a destruidora vim os arrebatar, a destruidora de prazeres os entristecer, aquela cujo nome é: Morte.

Notas:
 
[Nota 1] Wak em um dialeto africano significa: Deus (Allah para os árabes). As árvores então exaltariam o poder de Deus sobre todas as coisas. Allah= significa: Deus; e Al-Khallák= o Criador. É típico em todas as versões do livro das Mil e Uma Noites, a exaltação à Deus, aos costumes e as tradições árabes.
 
[Nota 2] Na mitologia árabe diz ser umas das espécies de gênios.


Fontes de pesquisa:

The Book of the Thousand Nights and a Night, Volume 8, Richard F. Burton. Projeto Gutenberg



O Livro das Mil e Uma Noites de Burton está disponível no Projeto Gutenberg. Pelo link abaixo é possível baixar o volume 8 do Livro. Outros volumes do livro das Mil e Uma Noites estão também disponíveis no site, porém o conteúdo está em inglês.

Resumo, tradução e adaptação de: Vagner Cariolato Caldas





Veja também: O Véu Roubado (conto de fadas alemão)