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terça-feira, 15 de outubro de 2019

Região Sul que possui o maior número de infectados pelo HIV teve a maior parte do contágio disseminado por sexo via vaginal


Alguns ignorantes podem dizer que esta é a prova definitiva de que os gaúchos são um povo cabra macho, mas o buraco é literalmente mais embaixo. Com os resultados de um novo estudo fica demostrado o alto grau de disseminação do vírus da AIDS no Sul do país e o mais grave: o subtipo C é mais difícil de tratar.


A região Sul tem o maior número de infectados pelo vírus do HIV, agora um novo estudo feito pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e pela Universidade do Minho (UMinho) de Portugal descobriu quais subtipos do vírus da AIDS estariam por detrás das infecções no Brasil.

A AIDS continua sendo considerada “doença de gay”, isso por 3 motivos: primeiro, pelo estigma que os homens gays sofrem levando uma vida na marginalidade, tendo assim sexo sem parceiro fixo e se inclinando para promiscuidade, porque a sociedade ainda não aceita um casal homossexual da mesma maneira que aceita um heterossexual; segundo porque o sexo anal é a segunda forma (depois da transfusão de sangue) mais fácil de transmissão do vírus e terceiro, esses dois motivos anteriores fizeram a AIDS nos anos 80 e 90 acometesse mais homossexuais masculinos do que os heterossexuais e lésbicas, criando a fama de “doença de viado”.

O estudo corrobora com o boletim de HIV/AIDS do estado do RS de 2018 que aponta: a maioria dos infectados no Rio Grande do Sul são homens heterossexuais.

Subtipos do vírus

Segundo o artigo Resistência genotípica do Vírus da Imunodeficiência Humana tipo 1 aos antirretrovirais: o vírus do HIV é dividido em dois tipos: HIV-1 e HIV-2. O HIV-1 é o mais comum em todo o mundo e é o tipo mais violento; já o HIV-2 é mais fraco e encontrado em algumas partes da África, contudo já se espalhou pelo mundo em menor quantidade que o HIV-1.

Ambos possuem subtipos. O HIV-1 é dividido em 3 grupos: major (M), outlier (O) e não M e não O (N). O grupo M é responsável por 95% dos casos de HIV-1 conhecidos e é dividido em 9 subtipos que são: A, B, C, D, F, G, H, J, K. No Brasil 80% dos casos envolve os subtipos B e C.

Segundo o novo estudo a região Sul tem a prevalência do subtipo C do vírus HIV-1 M, este é mais transmitido via vaginal, possui origem africana e só se mantém na região Sul. Já nas demais regiões prevalece o tipo B que é mais transmitido via anal. Contudo em 2010 no artigo HIV Genetic Diversity and Drug Resistance encontrado no ResearchGate dois pesquisadores brasileiros já demonstravam a prevalência do subtipo C na região Sul (veja a imagem abaixo) e do B no resto do Brasil. Além disso, alertavam sobre a dificuldade em tratar pacientes que não tinham o subtipo B, pois o tipo B é o mais comum nos países de primeiro mundo e por isso existe uma grande variedade de medicamentos para o seu tratamento; e, por isso, o subtipo C é mais complicado de se tratar.


No mapa podemos ver os subtipos do HIV-1 M no mundo. Um detalhe para a região Sul, em especial Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que possuem maior contaminação pelo subtipo C do vírus HIV-1 M.


Importância do estudo

O estudo não só analisa a maneira da transmissão sexual, mas serve para comparar com os boletins epidemiológicos dos estados a fim de se chegar a uma conclusão mais abrangente do modo de transmissão e das maneiras de prevenção.

Lembrando que vírus do HIV-1 também passa por fortes mutações. Por exemplo, um paciente pode ter sua célula infectada simultaneamente por diferentes subtipos do vírus, neste caso pode ocorrer uma recombinação genética e a criação de um vírus híbrido. Muitos destes vírus não conseguem se manter, porém, se a combinação for satisfatoriamente estabelecida tornam-se formas recombinantes circulantes (CRF–circulating recombinant forms). Até o momento já foram identificadas no mundo 29 CRFs do HIV, as quais são numeradas de acordo com a ordem em que foram descobertas; por exemplo: CRF01_AB indica o primeiro caso descrito composto pela recombinação entre os subtipos A e B.

Por isso a importância da prevenção e de estudos como esses. Há de se lembrar também que a AIDS não é a única Doença Sexualmente Transmissível (DST) que causa uma perda da qualidade de vida e que pode até causar a morte. Doenças como a sífilis, hepatites, gonorreia entre outras já demonstram uma resistência aos tratamentos convencionais; por isso, todo o cuidado é pouco.