Alguns
ignorantes podem dizer que esta é a prova definitiva de que os
gaúchos são um povo cabra macho, mas o buraco é literalmente mais
embaixo. Com os resultados de um novo estudo fica demostrado o alto
grau de disseminação do vírus da AIDS no Sul do país e
o mais grave: o subtipo C é mais difícil de tratar.
A região Sul tem o maior número de infectados pelo vírus do HIV,
agora um novo estudo feito pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
e pela Universidade do Minho (UMinho) de Portugal descobriu quais
subtipos do vírus da AIDS estariam por detrás das infecções no
Brasil.
A
AIDS continua sendo considerada “doença de gay”, isso por 3
motivos: primeiro, pelo estigma que os homens gays sofrem levando uma
vida na marginalidade, tendo assim sexo sem parceiro fixo e se
inclinando para promiscuidade, porque a sociedade ainda não aceita
um casal homossexual da mesma maneira que aceita um heterossexual;
segundo porque o sexo anal é a segunda forma (depois da transfusão
de sangue) mais fácil de transmissão do vírus e terceiro, esses
dois motivos anteriores fizeram a AIDS nos anos 80 e 90 acometesse
mais homossexuais masculinos do que os heterossexuais e lésbicas,
criando a fama de “doença de viado”.
O
estudo corrobora com o boletim de HIV/AIDS do estado do RS de 2018
que aponta: a maioria dos infectados no
Rio Grande do Sul são homens
heterossexuais.
Subtipos
do vírus
Segundo
o artigo Resistência genotípica do Vírus da Imunodeficiência Humana tipo 1 aos antirretrovirais:
o
vírus
do HIV é dividido em dois tipos: HIV-1 e HIV-2. O HIV-1 é o mais
comum em todo o mundo e é o tipo mais
violento; já o HIV-2 é mais fraco e encontrado em algumas partes da
África, contudo já se espalhou pelo mundo em menor quantidade que o
HIV-1.
Ambos
possuem subtipos. O HIV-1 é dividido em 3 grupos: major (M), outlier
(O) e não M e não O (N). O grupo M é responsável por 95% dos
casos de HIV-1 conhecidos e é dividido em 9 subtipos que são: A, B,
C, D, F, G, H, J, K. No Brasil
80% dos casos envolve os subtipos B e C.
Segundo o novo estudo
a região Sul tem a prevalência do subtipo C do vírus HIV-1 M, este
é mais transmitido via vaginal, possui origem africana e só se
mantém na região Sul. Já nas demais regiões prevalece o tipo B
que é mais transmitido via anal. Contudo em 2010 no artigo
HIV Genetic Diversity and Drug Resistance encontrado no
ResearchGate
dois
pesquisadores brasileiros já demonstravam a prevalência do subtipo
C na região Sul (veja a imagem abaixo) e do B no resto do Brasil.
Além
disso, alertavam sobre a dificuldade em tratar pacientes que não
tinham o subtipo B, pois o tipo B é o mais comum nos países de
primeiro mundo e por isso existe uma grande variedade de medicamentos para o seu
tratamento; e, por isso, o subtipo C é mais complicado de se tratar.
No
mapa podemos ver os subtipos do HIV-1 M no mundo. Um detalhe para a
região Sul, em especial Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que
possuem maior contaminação pelo subtipo C do vírus HIV-1 M.
Fonte
da imagem: Soares & Santos – HIV Genetic Diversity and Drug Resistance
Importância
do estudo
O
estudo não só analisa a maneira da transmissão sexual, mas serve
para comparar com os boletins epidemiológicos dos estados a fim de
se chegar a uma conclusão mais abrangente do modo de transmissão e
das maneiras de prevenção.
Lembrando
que vírus do HIV-1 também passa por fortes mutações. Por exemplo,
um paciente pode ter sua célula infectada simultaneamente por
diferentes subtipos do vírus, neste caso pode ocorrer uma
recombinação genética e a criação de um vírus híbrido. Muitos
destes vírus não conseguem se manter, porém, se a combinação for
satisfatoriamente estabelecida tornam-se formas recombinantes
circulantes (CRF–circulating recombinant forms). Até o momento já
foram identificadas no mundo 29 CRFs do HIV, as quais são numeradas
de acordo com a ordem em que foram descobertas; por exemplo: CRF01_AB
indica o primeiro caso descrito composto pela recombinação entre os
subtipos A e B.
Por
isso a importância da prevenção e de estudos como esses. Há de se
lembrar também que a AIDS não é a única Doença Sexualmente
Transmissível (DST) que causa uma perda da qualidade de vida e que
pode até causar a morte. Doenças como a sífilis, hepatites,
gonorreia entre outras já demonstram uma resistência aos
tratamentos convencionais; por isso, todo o cuidado é pouco.